Meu pai encontrou uma caixa com uns documentos e registros antigos meus. Um deles é de uma professora minha falando sobre o meu desenvolvimento do mês, ou talvez do bimestre. É de 1998 e em algum momento a tal disse que ficou muito impressionada porque certo dia, enquanto ela me ajudava a fazer xixi, eu pedi a ela me passar o papel higiênico pra que eu limpasse a minha vulva. Ela achou notável que eu soubesse a palavra "vulva" e a dissesse, ao invés de chamar minha genitália de algum termo ridículo com "x" ou "p".

Lá pelos meus oito anos eu encontrei um livro perdido na biblioteca da escola, cheio de liçõezinhas sobre anatomia e sobre sexo. Enquanto eu subia a escada pra ir pra aula, uma colega minha viu o livro, começou a gritar e chamou a diretora, que prontamente apareceu, arrancou o livro das minhas mãos, deu algum piti moralista e disse que ia relatar o acontecido à minha mãe (provavelmente ela lembrou como minha mãe era, uns cinco minutos depois, e nunca fez isso).

Alguns anos depois nós tivemos a fatídica aula sobre reprodução em Ciências e as minhas colegas se amontoaram atrás de mim, me passando bilhetinhos e sussurrando as perguntas que queriam que eu falasse em voz alta pra professora, pois elas não tinham coragem de perguntar, por exemplo, o que era o clitóris.

Na mesma época eu visitei uma amiga da escola (mais velha que eu) e fiz algum comentário sobre sexo e ela me deu um tapa na cara por medo que a mãe dela tivesse ouvido. Nós já devíamos estar no auge da pré-adolescência, quase terminando o fundamental, e ela nunca na vida havia conversado com a mãe sobre sexo.

Hoje em dia, imagino eu, todas essas minhas colegas, amigas, obviamente a diretora do colégio e a mãe da minha amiga temos algo em comum: todas nós transamos. Mas que vida sexual tem alguém que foi tão reprimida e desinformada durante a infância e a adolescência, que tinha medo de falar sobre aquilo com a mãe, que tinha vergonha de perguntar sobre hímen na aula de Ciências? Em que momento essas meninas - e aí eu nem falo apenas das que eu conheci, falo de todas as meninas que tiveram essa história - aprendem o necessário pra ter uma vida sexual saudável, se é que aprendem?

Por eu ter entrado dois anos adiantada na escola, eu sempre convivi com meninas mais velhas e, apesar de ser bastante madura e informada, eu ainda me apoiava nelas pra ter indicações sobre coisas que me aconteceriam no futuro próximo. Com quinze anos eu estava pra terminar o ensino médio e imaginava que no ano seguinte eu já estaria na faculdade, e eu não conseguia imaginar que eu permaneceria virgem* por nem seis meses depois que eu virasse uma universitária. A minha melhor amiga da época já era sexualmente ativa há anos e até hoje eu não esqueço o que ela me disse sobre a primeira vez dela: "doeu como se fosse uma faca me rasgando ao meio". Exatamente essas palavras. E naquele momento eu senti que ela só podia estar sendo hiperbólica, mas não. A irmã dela me contou algo semelhante e disse que "é inevitável, vai doer e tu tens que aguentar porque depois de algumas vezes começa a ficar bom". Era a idéia que corria na família. Todas as mulheres da família devem ter passado por isso e repassado às gerações seguintes. É tudo cíclico.

Foi baseada nesse tipo de situação que eu fui atrás de me informar sobre o assunto e comecei a tentar informar outras garotas a respeito. Eu costumava ter a visão de que apenas pessoas especializadas no assunto - médicos, ginecologistas etc - poderiam dar esse tipo de sugestão, mas a verdade é que todas nós merecemos acesso a essas informações e todas nós podemos ir atrás dessas informações. Esse texto não é definitivo e nem é infalível, mas se ele puder ser uma base pra que alguém vá atrás de descobrir mais sobre o próprio corpo, já é suficiente pra mim. As perguntas a seguir foram compiladas a partir das dúvidas de quem me segue em redes sociais e as respostas são baseadas em experiência e em tudo que eu já li a respeito (eu recomendo principalmente a leitura de "Vaginas", da dra. Carol Livoti). Infelizmente, a maioria se volta primordialmente ao sexo hetero, porque infelizmente é pelo que a maioria dos pesquisadores que eu já conheci se interessa. Eu encontrei poucos textos que não fossem fetichistas ou vulgares a respeito de sexo lésbico, então à medida que eu for encontrando textos bons no meio desses péssimos, eu vou postando nos comentários. Sinta-se a vontade pra sugerir textos nos comentários, por favor!



1. É normal doer e sangrar na primeira vez? Se você considerar normal = comum, aí sim, é normal. Se você considerar normal como algo dentro da norma, do correto, então é completamente errado. A menos que você tenha um real problema físico - ou que teu parceiro tenha - em geral a única maneira de fazer o sexo doer é fazendo errado. Sexo é algo relativamente simples na teoria, mas daí à prática há muitos obstáculos. É bem fácil errar algo fácil. Sexo é literalmente uma das melhores coisas da vida: não deve doer em momento nenhum, nem na primeira e nem na última vez. Sangrar então nem pensar.

2. Tá, mas então por que a maioria das meninas sentem muita dor e sangram? Em geral, por falta de informação. Não só falta de informação biológica, científica ("onde fica meu clitóris?"), mas também informação simples sobre o próprio corpo: meninas que não se masturbam, que não se olham, que não se tocam, que não conhecem seus limites, seus gostos, que não deixam a imaginação sexual aflorar, que não têm desejos ou até fetiches. Ficar excitada olhando foto do Harry Styles não é o bastante pra saber do que você ou como você gosta. Vais colocar na mão do teu parceiro o direito, dever, autorização e responsabilidade de descobrir o que é que você gosta, o que é que te dá prazer. E adivinha? Em quase todos os casos, esse cara não vai estar nem aí pro que te deixa confortável e excitada. E talvez nem seja por pura babaquice dele, que só quer enfiar o pinto em algum buraco; às vezes é simplesmente porque vocês dois foram ensinados a não dar a mínima. Vocês dois aprenderam as mesmas regrinhas sociais: que toda menina vai sentir dor e sangrar, que a menina não vai ter como gozar na primeira vez, que a menina vai ficar nervosa, mas quem sabe lá pela terceira vez fique bom. Se vai ser assim, por que ele se daria ao trabalho de caprichar nas preliminares (ou ter preliminares at all), de ser gentil, paciente, de entender que aquilo ali não é o momento dele e sim o teu momento, um dos mais importantes da tua vida? A gente é ensinada - isso quando é ensinada - a simplesmente aturar, porque a dor vai rolar, inevitavelmente. E eu falo pra vocês, sem o menor pudor: isso é MENTIRA. E não é uma mentira inocente, não é uma mentira acidental. Essa mentira começou anos e anos, séculos atrás, quando a idéia de uma mulher sentir prazer no sexo era completamente abominável. O prazer sexual era reservado aos homens e às prostitutas, que eram quase uma categoria sub-humana. Uma mulher "decente" deveria apenas se deitar com seu marido e procriar. Mulheres casadas que sentiam prazer já foram consideradas bruxas, gente! É desse tempo medieval escroto que surgiram todos esses boatos de sangramento, de virgindade, pureza e o diabo a quatro. Nós ainda somos sexualmente medievais.

3. Ah, mas sangra porque rompe o hímen! Olha, eu sou uma agnóstica quando se trata de hímen. Já li muito sobre, já ouvi falar, mas nunca o vi nem o senti. Independente disso, se o hímen de fato existe em todas nós, ele não é o que a maioria pensa. Sério: fala-se do hímen como se ele fosse uma tampa de Tupperware da vagina. Não, gente. O hímen nada mais é do que uma pelezinha porosa, fina e praticamente destacável dentro da vagina. Serve pra que, na infância, a menina tenha menos exposição a infecções. É isso. É a serventia e função do hímen. Começa como uma pele grossinha e depois vai ficando mais e mais fina, pra permitir a saída das secreções e o sangue menstrual. Aí vai outro segredo que nunca te contam: quando você tá excitada, a vagina dilata (e também incha, porque a vagina é assim, complicada e perfeitinha) e você fica lubrificada o suficiente pra que o hímen não se rompa, e sim deslize e simplesmente "abra caminho". Sim, existem exceções, como eu falei anteriormente: raros casos de meninas que têm o hímen mais grosso, menos poroso, mas esses casos em geral são descobertos antes da primeira relação sexual porque elas não conseguem menstruar direito. Não soa irrelevante o hímen diante disso tudo? Tudo isso pra dizer: virgindade não existe. Virgindade é um conceito social criado a partir da brutalidade sexual que ocorre contra mulheres há seculos pra manter mulheres sob controle. Aquele pedacinho de "pele" serve pra proteger teu corpo na infância e não tem grande valor além desse. Lembra daquele virgem* do início do texto? Aqui está a explicação do *: ninguém é virgem. Pode-se, claro, usar o termo pra resumir e facilitar a descrição de uma pessoa que nunca transou; mas se você essa palavra carregando com ela o sentido de pureza e todos os mitos que a "virgindade" traz, você tá viajando. Virgindade não existe. Se teu problema é o hímen, pode ficar tranquila.

Imagina comigo: a menina nervosa e insegura, com anos de "vai doer muito!", "vai sangrar horrores!", "não vais sentir prazer nenhum!", "ele vai te foder e te largar!", "todo mundo vai te chamar de puta!", "tua mãe vai te matar!", "todo mundo vai saber que você transou pelo teu quadril!" e tantos outros mitos imbecis, resolve transar com o namoradinho. Os dois têm dezesseis anos e a maior experiência sexual da vida dele foi se masturbar depois de ter sentado na mão por quinze minutos pra deixá-la dormente. Ela não se masturba, nunca teve um orgasmo, não faz a menor idéia de como é a sua lubrificação natural e não sabe direito se o clitóris é aquela coisinha de cima ou a coisinha de baixo. Ambos têm na cabeça que vai doer, sangrar e vai ser basicamente uma tortura pra ela, mas bem legal pra ele, que depois de machucá-la e fazê-la sangrar vai poder convulsionar por onze segundos em cima dela e gozar. Eles decidem não usar camisinha porque ele diz que "não dá pra sentir nada" e ele promete que vai tirar antes de gozar. Nenhum dos dois sonham que um adolescente que se masturba duzentas vezes por dia e que goza de hora em hora pode ter espermatozóides ainda vivos na uretra e que, antes de gozar, ele produz um líquido lubrificante que pode perfeitamente levá-los para a vagina muito tempo antes da ejaculação e consequentemente engravidá-la. Ele enfia de qualquer jeito enquanto ela tá tensa, com os músculos do corpo inteiro contraídos, sem lubrificação alguma. Aquele objeto estranho bate e lesiona nas paredes da vagina que nunca foram penetradas e que só foram lubrificadas por acidente enquanto a menina cruzava as pernas de excitação durante um episódio de Gossip Girl, aquele em que a Blair e o Chuck transam pela primeira vez na limusine e ela imaginava como seria a primeira vez dela. Em dois minutos já acabou. Ele goza na barriga dela e acabou. Tem sangue nos lençóis, no gozo dele, no pênis dele. E pode crer, aquele sangramento não vai parar tão cedo, e muito menos a dor das lesões. Ela não sabe nada sobre cistite e no dia seguinte vai ter uma infecção urinária bruta, que ela vai ter que esconder dos pais porque eles não podem saber que ela transou. Três dias depois ela vai conseguir um tempinho com o namorado e eles vão transar de novo, e vai ser a mesma coisa, porque ela ainda está machucada e com medo e traumatizada. E aí trinta anos depois a filha dela pergunta pra ela sobre como foi a primeira vez dela e a descrição é de tortura. É tudo cíclico.

4. O corpo muda depois da primeira vez? Isso não é exatamente um erro, mas as pessoas erram no que é que muda depois do início da vida sexual. Teu quadril não vai aumentar. Teus peitos não vão aumentar. Teu jeito de andar não vai mudar, a menos que você esteja com tanta dor no dia seguinte por causa do sexo ou por causa da cistite que ande meio manca, mesmo. Não vais parar de crescer, pelo amor da deusa! Nenhum crescimento vai parar ou começar por causa do sexo. O que era pra crescer ou diminuir ou mudar aconteceria com ou sem sexo. Mas muita coisa vai mudar se você estiver transando direitinho. Começa que você finalmente vai se livrar desse peso de ser "virgem". Qualquer medo que você tinha vai sumir (espero), e você vai ter regularmente uma dose incrível de prazer, de relaxamento. Sexo ajuda o  funcionamento cardíaco, diminui a pressão sanguínea, ajuda com problemas de insônia, ajuda teu sistema imunológico, ajuda a fortalecer os músculos da bexiga (ainda mais se você fizer um pouquinho de pompoarismo de vez em quando), é praticamente um paracetamol da natureza (isso vale pra masturbação também), é obviamente um exercício físico, diminui o stress do dia-a-dia, e gente!, em alguns casos até ajuda a TPM e as cólicas menstruais a serem mais levinhas. É um negócio mágico. Então sim, teu corpo vai mudar, tua vida vai mudar, mas se você fizer certo, vai ser só pra melhor, e não vai ser algo aparente a olho nu.

5. A vagina fica mais larga depois da primeira vez/depois de muito sexo? Por favor, joguem "parto normal" no Google. Olha o tamanho da cabeça daquela criança saindo daquela vagina. E ela volta ao normal depois do parto. Vocês acham mesmo que um pênis vai alargar aquilo que nem um bebê consegue? Não. A vagina fica com menos tônus à medida que o tempo passa, sim, porque o corpo inteiro perde tônus muscular, mas pode ser diminuído ou até evitado (pompoarismo, gente!), e definitivamente não é um problema que uma guria com 20 e poucos anos ou menos deveria ter em mente.

6. Dá pra engravidar na primeira vez? Tanto quanto na 748ª vez. É só juntar um espermatozóide com um óvulo e vai rolar um embriãozinho ali, desde a primeira vez.

7. Então já pode tomar anticoncepcional antes de começar a transar? Ô, se pode. O problema é como você vai tomar, né. Anticoncepcional pode ser muito benéfico ou muito, muito danoso. É preciso ir a um ginecologista pra que ele te indique o ideal pra ti. Ou seja: nada de tomar o que a irmã mais velha ou o que a prima ou o que a amiga do colégio toma, nada de tomar escondido, nada de tomar sem horário ou esquecendo de tomar o tempo todo.

8. Mas os meus pais não podem nem sonhar que eu transo! Então eu vou te falar a real: não transe. Se você não tem liberdade e nem segurança, não transe. Eu sei que você quer transar e que teus pais é que são os hipócritas relaxados (ou talvez nem sejam; muitas vezes a gente entra na onda de que todos os pais vão ser carrascos e no final era só dar uma chance a eles e conversar direitinho e eles acabam sendo superparceiros), mas se pra transar você vai ter que abrir mão dos cuidados com a tua saúde, acima de tudo, não transe. Espere mais um tempo, comece a conversar com eles desde cedo, mas a única coisa que eu tenho a dizer é: se não dá pra dar, então não dá, sabe?

9. Qual a idade certa pra transar? Essa pergunta não tem resposta certa ou exata, então eu não vou nem tentar argumentar pra fazer parecer que existe. Eu tenho como via de regra dezesseis anos. Você já pode votar com dezesseis, e se você já tem o poder de ajudar a foder um país inteiro, você deveria ter o direito de se foder também, I guess; mas não basta só ter a idade. Todas as outras circunstâncias, inclusive estar a fim de transar, obviamente, precisam acompanhar a data.

10. Como é o orgasmo feminino? Bom, pra começar, é uma delícia. Mas fisicamente o que acontece é uma contração generalizada do corpo, um ponto alto de prazer que dura alguns segundos (ou alguns minutos, se tu fores uma d'As Escolhidas) acompanhado de uma lubrificação muito intensa e mais "grossa" que a lubrificação da excitação pré-sexo. Há algumas mulheres que soltam muito líquido na hora do orgasmo, o chamado "squirting", que parece xixi vaginal, pra ser honesta; mas nem ginecologistas manjam muito bem por que ou como isso rola, então não vou ser eu a tentar explicar. Caso role contigo, vá a um ginecologista, pra que ele não saiba muito bem o que te dizer com propriedade. Outras mulheres têm orgasmos múltiplos, o que pode ser bem legal ou péssimo, caso você queira só dar uma rapidinha no banheiro da faculdade ou algo assim (por favor, não façam isso). Orgasmos múltiplos são basicamente orgasmos mais longos e que repetem aquele "auge" de prazer mais de uma vez. Depois do orgasmo, vem uma sonolência e um relaxamento intensos. E, ao contrário dos homens, as mulheres em geral conseguem continuar transando depois de gozar uma vez, o que é legal, mas raro, porque a maioria dos homens goza bem mais rápido que as mulheres.

11. Só dá pra gozar com penetração? Muitíssimo pelo contrário, minha cara. É mais uma coisa que ninguém conta pras meninas. Freud dizia que existe um orgasmo maduro e um imaturo: o maduro era o com penetração masculina e o imaturo era, bem, qualquer outra coisa, mas principalmente o causado pela própria mulher com masturbação. Ele dizia que o orgasmo imaturo não era tão intenso ou completo quanto o maduro. A realidade provada por Masters e Johnson (que inspiraram a série "Masters of Sex" da HBO) Ã© que, falando sinceramente, a última coisa que uma mulher precisa pra ter um orgasmo maravilhoso é um homem. Meu professor de biologia insistiu por muito tempo comigo que mulheres não sentem prazer algum na vagina, que apenas existe estímulo no clitóris e portanto o clitóris, apenas, pode causar orgasmos. Bullshit. O clitóris é extremamente mais sensível e é bem mais fácil chegar a um clímax estimulando-o, mas sexo não é apenas mexer aqui ou ali. Mesmo quando a penetração é feita de tal forma que o clitóris fica intocado, todos os elementos psicológicos podem, sim, levar a mulher a um orgasmo. Sem contar no ponto g.

12. MEU DEUS EXISTE PONTO G? Pior que existe. Mas ele não é nem um ponto e nem a cidade de Atlântida. É mais uma área mesmo, na parede superior da vagina, abaixo do osso pubiano, que fica mais inchada que o resto da vagina durante o sexo e por isso provoca mais prazer. É meio difícil de alcançar e de estimular, e por isso recebe esse tratamento besta como se fosse um unicórnio de buceta, mas não. É só um lugar legal pra se estar durante o ato. Caso você ainda não tenha sacado onde é, eu posso quebrar teu galho e te dar pelo menos as direções: coloca teu polegar em cima do teu osso pubiano (abaixo do monte de vênus), cobre o clitóris e a uretra com a palma da mão e aí coloca o indicador ou o médio, ou ambos, e "força" as pontas dos dedos na direção do teu polegar. É mais ou menos por aí. Tem desenhos melhores na internet.

13. Só pode usar absorvente interno depois da primeira vez? Essa questão é totalmente o tipo de questão que é legal você discutir com uma ginecologista. Ela vai te examinar, ver como está a tua "situação" vaginal e vai poder te dizer se vai rolar ou não. Aliás, esse é um bom momento pra começar a tua relação com uma ginecologista, uma relação que, se possível, vai durar muitos e muitos anos: a partir da primeira menstruação. Uma ginecologista que você visita regularmente vai ser alguém com quem tu tem liberdade de conversar, perguntar, alguém que te conhece intimamente e que vai cuidar de ti, de fato. A confiança estabelecida nessa relação é ideal e essencial!

14. É verdade que a camisinha diminui o prazer do homem? Eu não tenho pênis, mas te garanto que isso é mentira. Já botou uma luva de laboratório? Aquelas de borracha, geralmente brancas? Se nunca colocou, encontre uma pra testar e finja que teu dedo é um pênis e mexa nele. Pois é: a camisinha é extremamente mais fina que aquela luva. Então não tem essa de que não sente nada ou não sente prazer. Mas, obviamente, tem muito homem que prefere sem, assim como tem muita mulher que prefere sem, e muita mulher que passa a vida sexual inteira se prevenindo de concepção sem camisinha. Isso é uma escolha do casal. Hm, deixa eu repetir porque eu acho que essa frase pode passar batida. Isso é uma escolha do CASAL. Se o cara não quer usar mas você não se sente segura sem, não transe sem de jeito nenhum. Se você não tá numa relação estável em que ambos estão saudáveis e conscientes (ou seja, vocês foram ao médico pra ver se vocês têm alguma DST) então a camisinha é essencial e indispensável e pelo amor do milho, tu já deverias saber disso. Todo ano a Daniela Mercury aparece na televisão em fevereiro pra falar que tem que usar camisinha. Usa camisinha. Porra.

15. É verdade que depois da primeira vez toda menina tem infecção urinária? É quase verdade. Eu não conheço nenhuma que não tenha tido, mas há uma explicação plausível e bem fácil pra isso, e é tão comum que tem até nome de "cistite de lua-de-mel". Durante o sexo, com os movimentos pra dentro e pra fora, o pênis empurra a parede superior da vagina, e consequentemente a inferior da uretra, e a fricção do movimento faz com que as bactérias da entrada da uretra subam por ela e vão para a bexiga, causando a infecção, porque essas bactérias não pertencem àquele lugar. Um jeito simples de prevenir quase que por completo a cistite é, como sempre, estar bem lubrificada (pra evitar mais atrito na uretra) e fazer xixi logo depois do sexo, porque o xixi "empurra" as bactérias que subiram pra fora, além de reequilibrar o pH da uretra. Hidratar-se bem ao longo do dia é essencial esteja você transando ou não, mas nessa época é ainda mais importante. Caso não role de prevenir e você tiver a infecção, peça uma indicação pra teu ginecologista de um remedinho. NÃO saia tomando remédio sem consultar o médico, porque os efeitos colaterais podem ser muito piores do que ardor no xixi (experiência própria). E lembrete: a cistite não acontece só depois da primeira vez! Ela pode acontecer quando você passa muito tempo sem transar e aí volta a ser sexualmente ativa, pode acontecer simplesmente por falta de higiene ou cuidado e afins. Porém a cistite "de lua-de-mel" é quase que uma lei da natureza, então é bom prevenir ao máximo. Por via de regra, sempre faça um xixizinho depois de transar.

16. Se ficar sem transar por muito tempo, a vagina fecha/o hímen volta? Vagina não é lóbulo da orelha, que se você furar pra pôr brinco e depois parar de botar brinco, ele fecha. A vagina vai continuar do mesmo jeito que estaria caso você estivesse transando regularmente, a não ser pelo fato de ela não estar tendo muita atividade no dia a dia.

17. Pode transar menstruada? Pode sim, ô, se pode. O lance é que pode não ser tão confortável pra um de vocês, ou ambos, e muitas vezes a menstruação inibe parcial ou totalmente a lubrificação, então, assim, a menos que seu namorado trabalhe num submarino que só emerge uma vez por semestre, não vejo razão pra não esperar uns diazinhos antes de transar.

O que eu tô tentando dizer com tudo isso é que sexo é fácil. Sexo é bom. É gostoso, delicioso, é quase fofo; mas só se for feito certo. Não vale nada se for feito nas coxas, figurativa e literalmente. E é tão simples quebrar o ciclo, é tão possível. Tua mãe, tua avó, tua melhor amiga, tua irmã mais velha; todas elas podem ter sofrido e levado esse trauma e a desinformação pelo resto da vida, mas você não precisa. Esse texto aqui pode ser um início pra ti, ou pode ser mais um pedaço do caminho, mas definitivamente você não deve parar de se informar aqui. Questiona, lê, vá atrás. Joga no Google, se olha no espelho, se toca, conversa. Às vezes dá vergonha, mas sempre, sempre vai ter algum lugar onde você vai poder falar sobre isso, perguntar, se informar. Talvez tudo isso aqui seja novo pra ti, talvez você já tenha começado a vida sexual e de repente algo aqui vai te dar um alívio e uma explicação de "ah, então é por isso que aconteceu tal coisa". O importante é lembrar que sexo é a coisa mais natural do reino animal depois de comer, basicamente. Todo mundo transa, mas nem todo mundo transa bem. Não trate sexo como algo desconfortável, secreto, obscuro. Normaliza a idéia do sexo ao máximo possível e confia nele. Todo o medo, a vergonha e os mitos ruins são cíclicos. Se você quebrar o ciclo do sexo errado, você pode começar um ciclo que vai seguir por gerações e gerações. Faça isso.
Não dá mais pra negar o evento. Eu tenho vinte anos. 20. Com um "2" na frente. Eu saio da casa dos dez. A casa dos dez é a fase transformadora: tu abandonas a primeira infância, viras gente, ganhas forma, vontade, personalidade. Viras criança, pré-adolescente, adolescente, Jovem Adulta™. Daí pra frente é só adulthood, é só morro abaixo. Não tenho mais "deze" anos. Vinte. Com "v", de velha. Duas décadas. Qualquer empresa com a minha idade já seria considerada estável, consolidada no mercado, um investimento seguro. Já eu não me sinto tão assim.

Já acabou, afinal, a minha adolescência? Todo mundo me faz acreditar que sim. Eu já votei duas vezes, peço sushi pelo delivery e pago com o meu cartão. Faço faculdade e até consigo acreditar que sei o que eu tô fazendo e o que eu vou fazer. Decido meu próprio corte de cabelo, decido quantas colheres de café colocar no coador, decido que quinta-feira eu posso encher a cara, sim, e seguro meu próprio cabelo na hora de vomitar na sarjeta. Faço coisas como sair pra tomar um cafezinho com amigos, ler artigos sobre economia (só pra descobrir que nunca me ensinaram nada do que eu vou precisar saber pra ser uma Adulta economicamente hábil), pagar carnê da Renner. Planejo pra daqui a anos e lembro nitidamente de eventos de dez, doze anos atrás; aliás, unidades de tempo estão cada vez mais esquisitas. Dois anos atrás foi ontem, e ao mesmo tempo eu lembro dos meus quinze anos como se fosse uma outra vida. Cada vez menos eu penso que eu tô mudando muito, e ao mesmo tempo a pessoa do ano passado parece ser uma irmã esquisita minha. Faço arroz soltinho ou grudadinho, sem queimar, sem salgar demais. Isso é ser adulta, não?

Mas eu ainda me animo quando Clueless começa na tv e repito todas as falas com os personagens, ainda faço brigadeiro de panela regularmente só por tédio. Enrolo as pontas do cabelo quando tô distraída, assisto vídeos de filhotinhos de gato aprendendo a andar quando tô me sentindo triste, ouço música na rua e caminho como se estivesse num videoclipe. Ainda fico kfsjdkflçsdg~s]d quando tenho que interagir com alguém muito bonito; aliás, ainda uso kfsjdkflçsdg~s]d como descrição de sentimento e acredito que todo mundo deveria considerar isso como válido. Ainda não sei direito se eu prefiro me vestir como uma Barbie ou como uma soft goth pastel grunge. Meus hormônios fazem visitas constantes pra me atormentar, me deixar insuportável e deixar todo mundo ao meu redor mais ainda. Não consigo marcar uma consulta médica pelo telefone sem ficar ansiosa e com vergonha. Ainda saio da loja usando o par de sapatos novos. Tomo sorvete, ouço Adele e choro no cantinho da cama à cada briguinha boba com o namorado. Isso é ser adolescente, não?

Algumas amigas mais velhas parecem estar mais perdidas que eu, enquanto algumas mais novas parecem estar anos a frente, sem nem precisar de mapa. Simplesmente soa natural que elas sigam o caminho tradicional da vida, ou vão alternativamente construir a própria idéia de tradicional. Eu costumo ter bastante controle sobre minha vida, bastante noção de futuro, traço planos, e até que tem dado certo até aqui.

Mas o que vem agora? Isso aqui é a vida adulta plena? Certamente não é como nos filmes, ou como na minha imaginação de infância. Eu não me pareço muito com o que meus pais eram quando eu nasci. Eu não me sinto independente, não me sinto segura, não sei se sobreviveria muito tempo sem alguém na casa pra me ajudar com minha fobia de mariposas ou pra alcançar o controle remoto pra mim. Sou paranóica e amedrontada demais e tenho problemas de confiança demais pra ficar sozinha a noite. Isso é ser adulta? Ao mesmo tempo, eu ainda sou subordinada hierarquicamente da minha mãe; nenhum garçom passa a conta pra mim quando nós duas saímos pra comer juntas, sabe? Às vezes não é o mesmo cara de sempre na entrada da balada e ele me pede uma identidade pra saber se eu tenho mesmo a idade que eu tenho. As poucas vezes que eu me droguei eu entrei em pânico por pensar que ia tomar bronca em casa. E nem me fale sobre a distância emocional que eu estou pra ter filhos, o que, pra mim, será o sinal absoluto de que eu larguei totalmente meus anos de jovencita. Eu não fico mais assustada quando tô vendo uma série e de repente entra uma cena de sexo e eu não estou usando fones de ouvido. Eu tenho uma voz, eu tenho um título de eleitora, eu posso ir a qualquer padaria e comprar uma vodka e, com exceção dos olhos de julgamento que a mulher que trabalha no caixa vai me lançar por eu estar comprando vodka às 9:56 de uma quinta-feira, não vou ter muitos problemas. A frase "ninguém pode me impedir" vem muito a minha cabeça. Eu não tive aquela transformação moral maníaca quando fiz 18 anos, não tive aquela crise de rebeldia clássica, como se o aniversário mudasse toda a vida da pessoa e subitamente ela é um ser de si. Nem teria como eu ter essa crise, bêbada do jeito que eu tava. Porém agora parece que alguma coisa bateu forte. Existe uma palavra pra o oposto de nostalgia? Porque é isso que eu sinto agora. Não me sinto nostálgica, me sinto meio num vazio e ao mesmo tempo chegando numa área bem movimentada, como ir sozinha a uma festa em que não se conhece ninguém. Os vinte anos bateram um pouco mais forte, acho. A mudança de casa decimal, talvez. Não dá mais pra negar o evento. Eu tenho vinte anos. 20. Com um "2" na frente. Eu saio da casa dos dez. A casa dos dez é a fase transformadora: tu abandona a primeira infância, viras gente, ganhas forma, vontade, personalidade. Viras criança, pré-adolescente, adolescente, Jovem Adulta™. Daí pra frente é só adulthood, é só morro abaixo. Não tenho mais "deze" anos. Vinte. Com "v", de velha. Duas décadas. Qualquer empresa com a minha idade já seria considerada estável, consolidada no mercado, um investimento seguro. Já eu não me sinto tão assim.

Vai ver é assim com todo mundo e eu tô aqui matutando de boba que eu sou. Veremos.